A minha cidade
Há duas cidades no mundo
Que marcaram minha vida
Lisboa, onde nasci
Luanda, a minha querida
Em Lisboa abri os olhos
Numa tarde de Verão
Luanda me criou
E trago no coração
Para Angola fui um dia
Levada pelos meus pais
Lá cresci, em harmonia
Sair de lá, nunca mais!
Pensava eu, na altura
Adolescente, Criança
Não crendo que a vida dura
Me tirasse a Esperança
Ainda me lembro bem
Do tempo em que cresci
Naquela Luanda linda
E a vida que eu vivi
Não esqueço nunca mais
Do tempo das brincadeiras
Do conselho de meus pais
P'ra não subir às mangueiras
Mas as mangas, tão cheirosas
Nossos olfactos tentavam
E como crianças teimosas
Os joelhos esfolavam
As corridas que eu fazia
Não tinha medo de nada
Apesar de muitas vezes
Aparecer arranhada...
Ainda me lembro bem
Do tempo de brincadeiras
Onde grupos de crianças
Crescia, fazendo asneiras
Trepar às árvores e muros
Correr, jogar e brincar
Conviver com os amigos
E na Escola, estudar
Andar descalça na rua
Sem medo de me ferir
E quando chovia muito
Da minha casa...sair!
Lá fiz a Escola Primária
Num Colégio, em Miramar
Fui depois para o Liceu
Continuar a estudar
O meu Liceu.... que saudade!
Do tempo em que, sem cuidado
Rodeávamos, curiosas
Quem já tinha namorado!
E apesar de fechadas
Neste Liceu sem igual
Olhávamos, sorrateiras
Para a Escola Industrial!
Rapazes da nossa idade
Era o que ali não faltava
Olhando através da grade
Com os olhos se namorava
Os anos não param, avançam
E já estava na idade
De pensar no que seria
Depois da Escolaridade!
À Escola de Enfermagem
Acabei por ir parar
E no Hospital Central
Fui também estagiar
Mas a vida dá muita volta
E muitas vezes sem querer
Aquilo que nós queremos
É o que não se vai fazer!
E o destino não quis
Que de adultos fosse tratar
E fui para o Magistério
P'ra crianças ensinar
Luanda, cidade linda
Onde passei os meus anos
Onde conheci amores
Onde tive desenganos
Contigo eu cresci
Em amor e liberdade
Me fiz mulher, aprendi
O que quer dizer Saudade!
Sinto no meu coração
O cheiro daquela terra
Cheiro de África, de paixão
Mas também cheiro de guerra
Essa maldita, afinal
Destroçou meu coração
E foi ela, por meu mal
Que me fez fugir, então
Hoje, longe, eu te choro
Por não te poder abraçar
E entre soluços, eu digo:
"Luanda, eu vou voltar!"
Celeste Torres
4/05/2005